sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Por Geeh Maciel - Blog Livros de Elite

Começo essa resenha avisando que “Beco da Ilusão” alterna passado e presente, assim como realidade e ficção. Ao abrir o livro você é apresentado a Sarah Wainness, uma senhora de idade avançada que começa a narrar sua trajetória de vida com outro nome em uma época conturbada do mundo: a Segunda Guerra Mundial.

Yidish era apenas uma criança quando seus pais resolveram mudar-se de Karnobat na Bulgária, para Berlim na Alemanha, para receber uma herança deixada para seu pai por um tio que faleceu.
A Gráfica herdada estava localizada na mesma rua que a opera, o que despertou em Yidish o desejo de se tornar bailarina e brilhar nos palcos como todos os artistas que ela via entrar no glamouroso lugar sempre que acompanhava seu pai ao trabalho.

Para acelerar a adaptação dos filhos, o pai de Yidish contratou professores particulares para longas e intensas horas de estudo. A menina, extremamente inteligente, logo aprendeu o idioma e entrou para a escola, onde passava despercebida, ao contrario dos irmãos, já que era a única da família com cabelos loiros e olhos claros – algo que sempre incomodou Yidish, por sinal – . Ela logo fez amizade com Anton, um garoto alemão de origem, mas criado como Judeu, assim como toda a família da menina. E também com Erdmann, o primo de Anton, com quem estabelece um vinculo ainda mais forte que o de amizade e cumplicidade que tinha com Anton.

A mudança da família estava indo de “vento em popa” , se não fosse o fato de que eram uma família Judia em território Alemão as vésperas do eclosão da Segunda Guerra Mundial , onde Hitler viria a assumir o poder e massacraria qualquer um que não fosse ariano.

“Rodopiava, rodopiava até cair sentada de tonta. Ria de satisfação para o céu que girava diante dos meus olhos. Nesse meu cantinho eu podia tudo, eu era tudo, 
até parar de rodar e voltar para a realidade estagnada. 
Sei que dessa maneira parecia estar construindo 
castelos de areia que seriam desfeitos com o mais leve sopro do vento, 
mas não podia evitar o prazer de criar asas e ser livre para voar.”

Eu amo historia, deixo isso bem claro, era a matéria em que mais tirava notas altas na escola. Então, quando tive a oportunidade de ler essa obra, fiquei bastante intrigada e curiosa, ainda mais pelo livro ser classificado como um romance também. Como alguém pode transformar uma época tão feia do mundo em algo bonito, como um romance. Mallerey Cálgara conseguiu.

“Beco da Ilusão” é um livro que mescla o drama e o horror da guerra com a ingenuidade e a beleza do amor. A autora criou uma trama que trás a tona valores esquecidos por muitos e pouco valorizados por outros, como a força do amor e da amizade, e também o verdadeiro significado de família. E ao mesmo tempo em que nos mostra a necessidade desses sentimentos, ela também nos faz repensar e dar valor para coisas simples do nosso cotidiano, como a comida no nosso prato – um luxo para diversas pessoas, tanto naquela época, quanto agora –.

Yidish é uma criança que se vê tirada do seio da família e jogada no horror que eram os campos de concentração, forçada a trabalhar e vender o próprio corpo para conseguir um prato de comida e o minimo de segurança possível, mas que não perde a esperança em nenhum momento. Podemos dizer que a mensagem impregnada nas paginas deste livro é o amor. O amor despretensioso, indiferente de raça, cor,opção sexual ou religião.

“Beco da Ilusão” é narrado em primeira pessoa, pelo ponto de vista da protagonista. Ele nos trás uma trama coesa e bem construída, com personagens densos e profundos, cada qual com sua bagagem emocional – todas muito bem trabalhada pela autora - .

Como eu já havia mencionado, o livro alterna passado e presente. Iniciamos a leitura conhecendo uma senhora Yidish(agora Sarah Wainness), que apesar dos pesares, sobreviveu a todos os infortúnios da guerra, e aos poucos vamos conhecendo o seu passado pelos olhos da mesma, e retornamos para 1939, quando o caos tomou conta do mundo.

Não, não vá pensando que essa é uma leitura rápida e fluida. Inicialmente o livro é bem descritivo – muito bem ambientado, com riqueza de detalhes - , o que torna leitura um pouco arrastada. Mas é uma parte essencial para entendimento dos acontecimentos. E do meio para o fim o livro se torna bastante pesado, retratando momentos vividos pela personagem, mas que também foram vividos por pessoas reais durante esse período histórico.

Essa é uma trama que mescla ficção com realidade. A historia foi embasada na realidade, o que nos faz refletir sobre a crueldade do ser humano. Eu me envolvi com a trama. Como vocês podem perceber, ela mexeu com os meus sentimento. Chorei e sorri com Yidish (mais chorei, tá?).

Outro ponto que me agradou bastante na leitura é o desfecho. A autora criou algo bastante inusitado, mas extremamente realista – como tudo na obra-.

Enfim, eu realmente indico a leitura, mas para pessoas que estejam procurando um livro mais denso e reflexivo e que goste de historia. Não é um livro para se devorar em algumas horas, apesar das poucas paginas. Cada capitulo precisa ser digerido antes de seguir para o próximo, pois te dá uma outra perspectiva de vida.

Também não posso deixar de comentar sobre a edição fisica. O trabalho da editora Mundo Uno está um primor. O livro possui uma diagramação bastante elaborada com algumas paginas pretas e fotos reais da guerra iniciando todos os capítulos.

Ou seja, esse é um livro completo que vale a pena ter na estante, com certeza.

“Era como se vivêssemos em um mundo paralelo, em uma realidade alternativa, 
onde a vida humana valia menos do que um objeto qualquer."






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